Crônicas

A ovelha-negra de humanas

Eu poderia estar trabalhando, estudando, escrevendo artigos, mas estou aqui, a escrever mais uma crônica para esta bodega que estava mais abandonada que bares em Covilhã fora do período de aula. Volto a este bar que serve histórias para falar sobre as minhas desavenças com o povo de humanas. E é um caso especial, pois tecnicamente eu sou de humanas.

Sou formado em jornalismo e apaixonado por artes desde criança. Já tentei ser músico, ator de teatro e hoje ainda tento ser escritor. Sim, fracassei nos dois primeiros e caminho a passos largos para o terceiro.  E continuo a tentar. Sou boêmio e gosto de citar frases de livros e trechos de músicas nas conversas com amigos, nas cantadas com as gurias. Visito museus quando viajo e gosto de ficar parado por horas observando paisagens e locais.

Enfim, eu sempre me considerei um cara de humanas. Até que fui fazer algo bem humanas que é fazer testes de redes sociais: era uma para descobrir se você, de fato, faz parte deste seleto grupo. Você teria assinalar ao menos 15 coisas que costuma fazer entre 33 opções que seriam comum no povo de humanas. Assinalei somente 6. Fui chamado de “exatas”, cidadão dos números, fui expulso da sociedade miçangueira.

Pensei: eu sei fazer contas e não preciso de calculadora para operações básicas. Um monte de números não me assusta e me sentia a vontade fazendo reportagens do jornalismo econômico. Num trabalho de mestrado de Teoria da Cultura, o professor perguntou por que o meu artigo estava mais para Economia que a Cultura.

Se fosse só a proximidade com números. Minha dissertação ficou com um número de páginas abaixo da média. O orientador disse que meu texto era direto e objetivo e até a minha apresentação foi assim: levei menos tempo que podia para apresentar e fui tão direto nas respostas que minha banca foi provavelmente a mais rápida da história.

E para fechar o pacote: odeio signos. Minha única relação com os signos foi o desenho animado japonês Cavaleiros do Zodíaco, que via entre 1994 e 1996. O único astrólogo que eu lembre o nome é o Olavo de Carvalho (sim, aquele metido a filósofo).  Meu signo é cerveja com ascendente em IPA.

Confesso que no princípio me senti mal sendo excluído da sociedade de humanas. Mas hoje já admito o papel de ovelha-negra. Até conto para as pessoas que tive um 9.9 na média em Matemática no Terceirão. Sim, o colégio não quis me dar um 10. Talvez porque já sabiam que eu queria fazer jornalismo e não admitiam que alguém que fosse para esse curso tivesse nota máxima.

Hoje trabalho com o jornalismo, mas melhorando o layout de jornais online de interior. Continuo as pesquisas no jornalismo, mas sobre modelo de negócios. Voltei para o Cidade Plural, mas sem aquela proximidade com as artes. Essa bodega talvez seja meu canal direto com o mundo de humanas.

 

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