Quem é mais rápido, o ser humano ou a máquina? Foi num final de tarde de uma terça-feira que eu decidi fazer esta aposta. Era fim do verão, o calor já não me maltratava como nos meses anteriores e o sol ainda brilhava após as 18h. Uma caminhada até em casa faria bem para qualquer cidadão.
No entanto, eu confesso que não foi o prazer da caminhada que me estimulou ao desafio e sim o trânsito. Observando a Avenida Beira-Rio parada, resolvi enfrentar as máquinas. O duelo: quem chega primeiro no bairro Fortaleza, onde moro? Eu a pé ou o ônibus?
Parti da Prefeitura, onde na época, funcionava também a Câmara de Vereadores. Atravessei a rua e comecei minha caminhada seguindo o antigo trilho da Estrada de Ferro Santa Catarina. Poucos sabem, mas naquela via paralela a Avenida Martin Luther, passava o trem. A antiga estação ferroviária é hoje uma clínica veterinária.
Na minha esquerda, os carros estavam todos parados, como se estivessem estacionados. Dia normal de trânsito? Quase. A verdade é que tínhamos obras de um corredor de ônibus do local, que aumentava o transtorno. Enquanto os corredores não ficavam prontos, os veículos nem corriam, nem andavam.
No primeiro trecho, sai vencedor. Cheguei ao cruzamento do acesso ao Morro do Boa Vista sem que nenhum ônibus me ultrapassasse. Neste cruzamento eu pude entender exatamente o motivo do congestionamento. Por causa das obras, um trecho da Martin Luther ficou fechado e todos os veículos precisavam pegar um desvio pelo morro.
Fiquei curioso como seria a volta pelo Morro do Boa Vista. Cheguei a pensar em fazer o mesmo trajeto que os carros. O problema é que os ônibus continuam no trajeto original, aberto só para eles. Não teria como verificar a minha aposta.
Dois guardas de trânsito orientavam no local. Eles estavam bem humorados, apesar do trabalho intenso. Os senhores de azul me contaram que muitos motoristas queriam ser mais espertos que o complexo trânsito blumenauense. Eles faziam um desvio do desvio para conseguir voltar à via principal metros a frente. Infelizmente, uma péssima estratégia. Os espertos ganhavam 500 metros e depois entravam num congestionamento ainda maior.
Continuei meus passos, caminhando sozinho pela avenida. Em um determinado trecho, me senti num mundo pós-apocalíptico. Era o único cidadão andando pela rua. Nenhum carro, nenhum ônibus, nenhum ser humano por perto. Bonito e assustador ao mesmo tempo.
Terminei a avenida novamente na frente do meu adversário. Mais duas etapas pela frente antes de chegar à vitória: a Ponte do Tamarindo e a Via Expressa. Sabia que o desafio seria ainda maior, pois se tratava de uma ponte com quatro pistas e uma via rápida. Se o meu adversário aparecesse na vista, com certeza passaria na minha frente.
Caminhar pela ponte foi tranquilo, pois o espaço para o pedestre é devidamente delimitado. Na Via Expressa não. Como ela é, teoricamente, exclusiva para veículos automotores, eu era um fora-da-lei andando em sua marginal. Veículos a mais de 100 quilômetros por hora passando ao meu lado e a aquela sensação que um deles poderia perder o controle e invadir o acostamento permanecia no meu subconsciente.
Mas o trecho foi seguro. Deu tempo, inclusive, para observar que a via no sentido inverso já estava parada e congestionada. E eu sabia o motivo: aqueles motoristas espertos que desviaram do desvio acabaram fechando as ruas no sentido contrário (bairro-centro), e tornaram o trânsito na cidade ainda mais complicado.
Deu tempo até para observar e bater algumas fotos da construção de um shopping center nas margens da Via Expressa antes de chegar no Terminal Fortaleza. O meu percurso foi feito em 40 minutos. O meu adversário levou mais 10 para chegar.
Foi a primeira vez que desafiei um veículo automotor com os meus tênis no caos urbano blumenauense. Outros desafios estarão por vir…