Crônicas

Em um relacionamento tóxico com Blumenau

Blumenau, 168 anos. As timelines das minhas redes sociais estão inundas de belas imagens da capital do Vale. Declarações de amor, relatos de momentos passados surgem de simples moradores, de cidadãos participantes da sociedade, de candidatos a deputado.  Um script padrão para o aniversário de uma cidade.

E eu? O que vou escrever sobre esta cidade? Vou colocar uma imagem bonita (tenho várias) e dizer que estou com saudades? Mas estou mesmo? Será que eu queria estar na cidade como queria no final de semana do Colmeia? A verdade é que tenho um relacionamento tóxico com Blumenau. Continuo a gostar dela, mesmo sabendo que isso me faz mal.

É um relacionamento tóxico porque já deveria ter terminado. Ora, estou há dois anos em Portugal, tentando emplacar um doutorado, feliz em viver escondido atrás das montanhas da Serra da Estrela. Me adaptei ao clima (tá, o verão não), ao ritmo mais lento de uma cidade pequena, novamente adaptado ao ambiente acadêmico também.

Mas não adianta. De longe, continuo acompanhando o que se passa na terrinha de origem. E não é somente porque a família e os amigos estão lá. Do alto das montanhas, vibro com o título do Metropolitano na segunda divisão catarinense, me preocupo quando o nível do Itajaí-Açu sobe (sei o cota de enchente da rua que morava), faço lives sobre a política local.

Continuo, de uma certa forma, preso a cidade sabendo de todos os seus defeitos, todos os seus problemas, todas as suas controvérsias: a cidade onde bares são proibidos de colocar mesas nas ruas, onde o transporte coletivo é desprezado, a cidade número um de Santa Catarina em número de favelas, que esconde seus problemas atrás dos morros. A cidade onde uma meia dúzia se acha dono de tudo, onde a inveja impera e quem tem iniciativas ousadas e empreendedoras sofre com processos, com críticas absurdas.

Semana passada eu disse que me senti realmente fora da cidade quando deixei de ir numa edição do Colmeia. O bom clima por aqui ajuda muito a romper com esses grilhões, mas acho difícil ficar longe de uma cidade que tanto respirei, atuei, participei, de alguma forma ajude a fazer.

Preciso deixar esse relacionamento tóxico com Blumenau. Mesmo com a ida no fim do ano pra lá e com a indecisão sobre 2019. Talvez precise de um novo amor (de cidade), algo que ainda não rolou com as ladeiras da Serra da Estrela.

Continuarei em frente aqui, com a saudade que nunca vai conseguir me deixar em paz. Parabéns, Blumenau.

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