Alguns podem achar que esta crônica está dois anos atrasada, período em que estou fora do Brasil. De fato, são dois anos que troquei a chuva, o trânsito e a correria de Blumenau pelo frio, vento e a tranquilidade, ora assustadora, de Covilhã. Mas escrevo esta crônica hoje por ser um dia especial. Desprendi-me de mais um grilhão que enraizava em Blumenau: o Colmeia.
O Colmeia nunca foi apenas um evento cultural. Não se tratava apenas de ir ao Teatro, assistir shows, peças, filmes, conhecer as novas exposições. Ir para o Colmeia significa justificar a minha presença e o meu amor pela cidade. Não ia para apreciar as artes, ia para respirá-las, vive-las.
Por muitas vezes, considerei-me um artista frustrado: frustrado no violão quando criança, frustrado no teatro posteriormente, frustrado nas palavras atualmente. Sempre procurei a arte para me compreender, busquei no meu talento, busquei em mulheres com quem saí, nas reportagens que escrevi, numa busca eterna pelo meu espaço junto ao mundo artístico.
O Colmeia ajudou a me encontrar. A união de tantas artes, tantos artistas, tantos mundos, me fez entender que desejo a arte de forma ubíqua. Não quero apenas fazer, ou apreciar, ou reportar, eu quero tudo e tudo ao mesmo tempo.
A existência do Colmeia fez as minhas pazes com as artes. E ao mesmo tempo me prendia em Blumenau. Ora, como viver em um outro mundo a qual eu não pudesse estar imerso às artes? Por que trocar de lugar e abrir mão de tantas coisas que me fazem tão bem?
Hoje tem Colmeia, hoje eu não vou. Hoje eu estou distante e tenho até dificuldades para ver o Cidade Plural que criei cobrir ele. Não me arrependo de trocar a chuva pelo frio, o Vale pelas Montanhas. Iniciei uma mudança de rota e ela ainda não acabou. Estou feliz e motivado onde estou.
Mas hoje, só hoje, apenas hoje, queria estar em Blumenau. Impossibilitado, sinto que uma âncora se foi, um grilhão foi quebrado. Hoje eu saí, deixei a minha terra. Uma tristeza necessária…