Era o começo do ano e eu sentei a beira mar e comecei a observar o oceano enquanto pensava na vida. Um rito sagrado feito há quase 33 anos que não podia ser quebrado. Estava tudo lá como sempre, as ondas do mar, as pessoas caminhando na praia, outros correndo. Tinham aqueles que ficavam no molhe, sentados, observado a vista como eu. As crianças se divertiam tanto quanto os cachorros, em uma disputa eterna para saber quem corre mais.
O que estava diferente? As marcas na areia não eram pegadas e sim marcas de tênis, ninguém se aventurava a entrar no mar e casacos, luvas e gorros substituíam os biquínis. Era mais um início de ano na praia, mas uma praia no inverno.
Trocar o hemisfério é uma sensação estranha. É como se o ano não terminasse mais em dezembro e sim em junho. É ver o Natal com a cara de Natal dos filmes, mesmo que a cidade em que você mora parece desapegada às questões religiosas (ou seria comerciais). Aquela nevasca que faz as crianças dos filmes brincarem no dia seguinte foi trocada pelo sol, mas parece que as roupas são feitas para a ocasião.
Mas começar o ano na beira da praia não poderia ser diferente. Mesmo que você escolha passar a festa do Réveillon longe das águas, os dias seguintes precisam seguir os ritos. Organiza a agenda e marca para pegar um fim de tarde na orla, o primeiro pôr do sol no Mediterrâneo.
A sensação é a mesma do Atlântico em pleno verão. Não é o suor na camisa, o banho no mar que importa. Sentar em uma pedra a beira do oceano, olhando o horizonte e viajando entre o passado e o futuro é talvez o mais importante para um observador do mar como eu.
Estar à beira mar é aquilo que me acalma, me traz as forças para começar algo novo. Não escuto reggae, não como peixe, tampouco gosto de ficar torrando sob o sol (nem posso). Também detesto som alto na orla e não considero Balneário Camboriú uma praia.
Por que gosto tanto do mar, então? Não sei. Talvez uma praia no inverno seja o momento perfeito. É uma relação de amor, platônica, visual…
Adorei teu texto, e compartilho da mesma ideia dos dois últimos parágrafos!