Primeiro foi o roubo do anão. Aquele anão da decoração de natal da Covilhã. Confesso que sempre quis abrir uma crónica com esse assunto. Nos meus 10 anos de jornalismo no Brasil, nunca tive a oportunidade de iniciar uma notícia com “anão de decoração de natal é roubado na cidade e depois é encontrado”. Pois foi uma fofoca muito comentada na cidade no mês de dezembro.
Crônica publicada originalmente em dezembro de 2019 no site Viva Covilhã.
Depois veio a história do ganso. Aquele ganso terrorista, que assustava as pessoas no Jardim do Lago. Fiquei perplexo e curioso com a “notícia”, publicada em um famoso grupo covilhanense no Facebook: “mataram o ganso”. Disseram que foi uma raposa, disseram que foram pessoas que não gostavam dele.
O ganso morreu, mas o cisne continua no Jardim do Lago. Um cisne também terrorista, mas que gosta mesmo é de tocar o terror nos patinhos, principalmente quando eles nadam sincronizados. O cisne liga o acelerador e estraga a festa.
Histórias pitorescas como essas fazem a festa de cronistas e metidos a cronistas como eu. Gostamos do cotidiano chulo, tosco, damos atenção para coisas com que os outros não se importam. Prestamos atenção aos pormenores, às vírgulas, transformamos isso em histórias legais porque temos uma imaginação fértil, entendemos que há literatura em tudo.
O roubo do anão é muito Covilhã
Mas Covilhã…gente…Covilhã é uma cidade literária. As histórias pitorescas são a ponta do iceberg. Esse amontado urbano encravado nas montanhas tem um passado mal resolvido, uma coleção de fábricas e casas abandonadas, uma paisagem deslumbrante, bêbados de estimação, entre outros elementos riquíssimos para a literatura.
Esta é uma cidade onde vários bares têm um proprietário chamado Jorge. No Brasil, temos o costume de chamar os bares pelo nome do dono, aqui não é possível. Uma cidade que tem um feitiço que aprisiona as pessoas que falam mal dela, cheia de amores de Erasmus e com um repertório amplo de nomes criativos para shots.
Tantas peculiaridades tornam a Covilhã o cenário perfeito para a ficção. A paisagem leva ao encontro da ficção com o audiovisual. Às vezes, tenho vontade de cursar Cinema na UBI. Mas, eu gosto é de escrever e essa crónica é mais do que uma mera constatação das características literárias da cidade, é um chamado para todos os outros que pensam igual a mim: vamos fazer uma série de contos (ficção mesmo) ambientadas na CoviLove?