Um bar fuleiro! É…não refiro-me àqueles bares gourmet travestidos de simples que pipocam pelo Brasil. Aquele locais de elite com nome de “boteco”. Até porque boteco de verdade não chame-se boteco. Falo de locais simples, com preços simples. O verdadeiro boteco é aquele com cerveja barata. Cervejas artesanais são boas, mas é outra história…
Bar fuleiro, cerveja barata, uma jukebox mais aleatoria que o Ronaldinho Gaúcho e um grupo de pessoas na mesa a conversar. Pessoas com mais de 30 anos, que quando tinham 20 se imaginavam estar em um lugar seguro, com um emprego fixo, estudos avançados, talvez um carro e com prestações do apartamento no início de todo mês. E claro: família.
Com exceção dos estudos, não existe nada disso. As pessoas tem mais de 30 anos e continuam ferradas. Latino americanos sem dinheiro no banco, estudando doutorado e procurando formas de pagar as contas. O glamour acadêmico esvaiu-se. Sobrou as leituras e os prazos para entregar artigos.
Em meio a conversa, frases interessantes surgem em meio a discussões sobre relacionamentos, carreira e o governo Bolsonaro (sim, o governo Bolsonaro sempre aparece, todos querem falar mal dele). Mas voltamos para as frases: a razão desta crônica. São frases muito boas, desde pérolas românticas publicadas nos stories até novos conceitos sobre qualquer coisa.
De onde surgem essas frases? Quem são essas pessoas? Existem mesmo? Que diabos de cidade é essa onde os pichadores são românticos e/ou tarados? Isto aqui é realmente uma vida ou é uma dessas séries que se passa na televisão/internet?
Vejamos: os personagens a volta são bem construídos. Não há ninguém parecido: cada um muito peculiar, com uma história muito bem trabalhada. As situações são pitorescas e todas elas são contadas no bar, onde cada personagem tem o seu momento. De uma hora para outra, todos vão embora, e eles chegaram assim. Isso não pode ser real.
Pergunto-me quem está no roteiro dessa história? Quem é o roteirista deste seriado da Netflix? Não deve ser Tarantino, porque o local é muito pacífico. Não é o Shyamalan, pois por mais que o local seja um tanto estranho, as coisas bizarras não ocorrem com os protagonistas. Nem os irmãos Coen e os irmãos Nolan, porque a história não é tão complexa.
Suspeito que essa história esteja nas mãos de Kevin Smith, o roteirista de Dogma e Procura-se Amy. Diálogos intermináveis, muitas referências de filmes, músicas e livros e um cotidiano sendo contado de uma forma diferente, que torna interessante. Também suspeitei de Jerry Sienfied, mas essa série não é tão humor assim…
Neste roteiro de Kevin Smith, um jornalista e pesquisador continua buscando novos projetos e sonhando com novos países, sempre referenciando a vida com letras de músicas.
A série até que é boa. A trilha sonora melhor ainda. E é muito melhor ser escrito pelo Kevin Smith que pelo roteirista da série Brasil 2019…