Eu já disse algumas vezes nesta bodega que tenho problemas com a poesia. É um mal que admito e não me orgulho. A racionalidade me afasta do versos e tenho uma paixão incontrolável pelas histórias lineares. Admiti que Fernando Pessoa sempre foi uma exceção e Lisboa não apenas me confirmou, mas também abriu novas esperanças para uma vida sem preconceitos com os poetas.
Lisboa respira arte. Na parte histórica da cidade, todo botequim é literário. A arquitetura, a decoração nas paredes, o copo com um café pingado, as pessoas andando nas ruas desviando dos pombos, o fim de tarde junto ao Tejo e a Torre de Belém, lugares para não se fazer nada, apenas sentar e ficar apreciando a paisagem.
Mas vamos ao que interessa: uma passagem rápida pelo Café A Brasileira, favorito de Fernando Pessoa até conhecer a casa em que o poeta morava, hoje uma biblioteca e espaço cultural dedicado à poesia.
Poeta solteiro, não teve filhos, visto como um maluco e viciado em astrologia, fazia o mapa astral até para seus heterônimos. A visita guiada em sua casa custa 4€, no meu caso 3€ porque sou oficialmente um estudante. A condutora cultural, empolgada, revela que 90% das pessoas que fazem a visita são brasileiros, segundo ela, fãs de Alberto Caeiro. Álvaro de Campos também é muito lido e admirado no Brasil, eu respondo.
A visita inclui a história de vida do autor, seu envolvimento com a revista Orpheu, onde seus heterônimos foram apresentados, a visita ao quarto com móveis originais preservados e um espaço multimídia com personalidades do mundo citando seus poemas. A biblioteca possui seus livros em mais de 30 idiomas, mas também abre espaço para outros poetas.
Lisboa é uma cidade fascinante, inspiradora e a Casa Fernando Pessoa deve ser obrigatória para quem ama literatura. Contos e crôncias surgirão aqui nos próximos dias, culpa desse passeio. Termino essa postagem, que abre a categoria de IDEIAS (textos não literários sobre literatura) com um poema de Pessoa.
Presságio
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…