Crônicas

A muitos passos do paraíso

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Uma mochila nas costas e uma bolsa de viagem na mão. Fone nos ouvidos, óculos escuros, camisa dry-fit, bermudão e tênis para corrida. Assim chegou o jovem na rodoviária de Blumenau. Cheio de planos e sonhos para passar os últimos dias de 2013 em Balneário Piçarras. Mal sabia ele que antes de chegar ao paraíso, ele precisaria dar uma passadinha no inferno.

São os tipos de pessoas que você deve evitar em um ônibus: as tiazonas que não usam desodorantes, adolescentes rebeldes que ouvem funk alto sem usar fone de ouvido, bêbados clássicos e crianças devoradoras de Cheetos. Quis o destino que todos eles estivessem no mesmo ônibus que o nosso protagonista naquele sábado de manha.

O jovem sentou na poltrona 22, corredor. Com olhares no horizonte e ouvidos no punk rock que vinha do ipod, ele mal reparou que uma menina de 10 anos sentou ao seu lado. Ela estava mais feliz que ele em ir à praia e ficava maior parte do tempo conversando com sua mãe, que estava na fileira atrás, junto do irmão de cinco anos. O pai trabalhava na segunda e por isso não acompanhava a família.

O ônibus saiu da rodoviária de Blumenau com quase todas as poltronas cheias e a medida que andava, ia recebendo mais gente no caminho. Já no Bela Vista entraram os primeiros infelizes que fariam a viagem em pé Elas chegaram carregando bolsas, malas, transportando de tudo. De roupas a ventiladores, ate barracas, lotando também o bagageiro externo do ônibus,

Foi entre uma musica e outra que o jovem percebeu que um funkeiro estava no ônibus. No banco da frente, o DJ fazia as cachorras descerem ate o chão (só que não), irritando a todos que não tinham um fone de ouvido para se protegerem.

Mas foi entre Gaspar e Ilhota que o drama do nosso protagonista começou. Ela, a temida tiazona sem desodorante entrou no ônibus carregando uma imensa bolsa que não conseguiu deixar no bagageiro de fora. Nem e preciso dizer aonde ela estacionou.

Como o busão estava lotado, a tiazona se apoiou na poltrona 22, colocando parte da pança e abrindo a asa, libertando um odor pior que o enxofre dos infernos. Se não bastasse a cena, ela falava alto no ônibus, reclamando do adolescente funkeiro que nem dava bola para o que acontecia.

Ao lado da tiazona estava ele, o Senhor da Pinga, O Conquistador das garrafas de cana de plástico, com seu hálito inigualável, tentando puxar uma conversa. A mulher se irritou com a tentativa do bêbado e começou a se mexer para empurrar o bebum. A pança descansava sobre o corpo do jovem enquanto o odor da asa se misturava ao bafo, formando um gás toxico que se fosse em grande quantidade, seria chamado de arma de destruição em massa.

O nosso protagonista rezava em voz baixa para que ambos descessem na Praia de Gravata, enquanto tentava dar as costas ao horror, ficando com o corpo voltado pra pessoa que sentava na janela. A menina de 10 anos parecia dócil e inofensiva, ate sacar da mochila, outra arma de destruição em massa para ônibus: o pacote de cheetos.

Se você já entrou num ônibus com um sujeito comendo cheetos, sabe o drama que o nosso protagonista estava vivendo. Se você era um daqueles que comia o salgadinho, me desculpe: você era uma pessoa cruel. Não ha petisco que deixe maior fedor em um ambiente fechado que o tal salgadinho de milho da Elma Chips.

Uma manha quente de sábado, um ônibus lotado, uma pança de empurrando, um bêbado falando alto, um cheio de asa que se misturava ao álcool e um pacote de cheetos aberto ao seu lado. Tudo isso sob a trilha sonora do funk ostentação. O desafio era não pedir para sair do ônibus antes do ponto.

Tentando tapar as narinas, prestando atenção na musica do seu ipod, o jovem passou a focar também na paisagem na janela. Já na Beira-Mar, olhava um semelhante debaixo do guarda-sol, bebendo cerveja e distribuindo sorrisos. Em silencio, ele pensava:

Quantos passos faltam para o paraíso?

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