Quando eu soube do lançamento de “Em Agosto Nos Vemos”, obra póstuma de Gabriel García Márquez, um sentimento veio à tona: a paixão pelo proibido. Isto porque o colombiano, que morreu no dia do meu aniversário em 2014, não queria ver a obra publicada. Este livro não funciona, temos que destruí-lo, teria dito o prêmio nobel de literatura em 1982.
Ora, dizem que as melhores biografias são aquelas não autorizadas. E qualquer coisa que um dos maiores escritores do século XX tenha escrito desperta o interesse do mercado editorial. Ainda mais, quando os filhos decidem publicar que o que não deveria ter sido publicado. Afinal, devemos respeitar os desejos do autor ou o interesse do público fala mais alto?
Mas afinal, do que se trata “Em Agosto nos Vemos”? Trata-se de uma história sobre coisas proibidas…A personagem principal da história é Ana Magdalena Bach, uma mulher de mais de 40 anos, casada, com dois filhos. Ana vive numa família tradicional e, todos os anos, em agosto, ela viaja para uma ilha no Caribe para levar flores para o túmulo da mãe.
Numa dessas viagens de agosto, ela vai ter um caso com um homem desconhecido e toda a vida de Ana Magdalena começa a mudar. Entre aventuras e desventuras de relações proibidas na ilha caribenha, ela vai descobrir coisas sobre a mãe, o marido, entre outros assuntos, digamos assim, proibidos.
Genialidade e história incompleta
Primeiramente, afirmo que nesta obra, Gabriel García Márquez mostra seu talento para falar do amor de pessoas mais velhas. Com um tom mais leve, o colombiano repete a fórmula de Memória de Minhas Putas Tristes e reforça a genialidade do autor que vai muito além de Cem Anos de Solidão.
Porém, Em Agosto nos Vemos é, claramente, uma obra incompleta. Márquez começou a pensar neste livro ainda no fim dos anos 90 e o alzheimer impediu que a obra fosse, de fato, concluída. A história tem um fim, mas um fim estranho, claramente não bem desenvolvido. A obra toda dá sinais que o autor não tinha concluído dos trabalhos.
A empolgação de uma obra póstuma, com ares de proibido, deu lugar a uma certa insatisfação. Será que era necessário? Não teria sido melhor respeitar os desejos do autor? Os filhos de García Márquez forçaram a barra ao publicar? O bom e velho ditado “tudo que é proibido é mais gostoso” talvez não se encaixe neste caso.
Em Agosto e a Netflix
Segundo os filhos de García Márquez, o sucesso do livro responderia se a decisão de contrariar o autor seria boa. Pois, eu fico na dúvida, apesar do prazer de ler novamente uma obra do colombiano. Em breve, a Netflix vai lançar uma série a partir de Cem Anos de Solidão, a obra máxima de Márquez. Os livros fizeram exigências na venda dos direitos autorais. Porém, depois de Em Agosto Nos Vemos”, eu tenho medo.
Obs. Gabriel García Márquez é um dos meus dois autores favoritos, o outro é o peruano Mario Vargas Llosa. Como eu consigo gostar de dois escritores tão antagonistas no campo político? Fingindo que não leio o que Vargas Llosa fala em política…