Feirinha da Servidão Wollstien
Devaneios

Feirinha da Servidão Wollstein, 10 anos

Terça-feira não é dia de ir para o bar. Em tese, é o que todos pensam. Mas foi o Butiquin Wollstein o primeiro pub blumenauense a abrir neste dia da semana. Chamaram o Fábio, dono do bar, de maluco. E ele é mesmo. Ora, quem vai ir para um pub numa terça-feira, no finzinho da tarde (nos tempos de horário de verão)?

A resposta é eu! Não, eu não tenho problemas com a bebida e nem estou citando uma música do Velhas Virgens. Mas eu estava lá, numa terça-feira de um fim de novembro, perto das 19h. Eu, o dono do bar e mais uma pessoa. O que eu estava fazendo lá? Literatura. Calma que eu explico.

Eu participava de um blog coletivo de literatura chamado Botequim Literário e a gente queria fazer um evento etílico-cultural para promover a página. O melhor lugar para fazer um evento desses em Blumenau só poderia ser o Butiquin Wollstein. Mas havia um Laps no meio do caminho.

Laps é jornalista como eu, mas também músico (que eu também pensei ser quando criança, mas isso é coisa para outra crônica). Ele também foi ao Wollstein numa terça-feira do fim de novembro para negociar com o Fábio. Um membro da banda dele não poderia estar no dia em que a banda, intitulada Clube dos Corações Partidos, iria tocar. Laps, o vocalista, queria manter a reserva, mesmo sem a banda.

Tudo isso no Butiquin Wollstein, um pequeno pub no coração de Blumenau, um lugar que revezava entre o rock and roll clássico, o blues, o samba de raiz, entre e outros estilos. Um barzinho pequeno, que ocupava umas salas em uma galeria, mas que estava lançando sua grande novidade: uma servidão.

Em 2008, quando fui morar em Florianópolis, eu encontrei vários endereços com o logradouro de Servidão ao invés de rua, avenida, etc. Demorei para entender que servidão era uma via privada, mas com uso público. Assim, foi mais fácil entender porque o Fábio intitulou de Servidão Wollstein a estradinha que dava acesso a nova entrada do Butiquin.

A ideia do Fábio era fazer eventos ao ar livre. Ele já tinha um nome bacana para o novo espaço, muito melhor que “deck”, “lounge” ou coisa gênero. Faltava o evento de estreia.

E assim começou o papo na mesa do Butiquin. Eu queria um evento cultural, o Laps queria usar a data do show da banda para outra coisa e o Wolllstein queria lançar a Servidão Wollstein. Você provavelmente já conhece o final dessa história. Possivelmente presenciou ela. Mas ela precisava ser contada de novo.

Feirinha da Servidão Wollstien
Feirinha da Servidão Wollstien

Precisava porque a primeira edição da Feirinha da Servidão Wollstein, resultado daquela conversa de bar numa terça-feira, ocorreu no dia 8 de dezembro de 2013, há exatos 10 anos. O evento mais despretensioso do mundo, que fez parte do calendário blumenauense por quase uma década, que influenciou outras feiras por Santa Catarina.

A feirinha cresceu de forma orgânica. Nunca foi um trabalho profissional meu, do Leo Laps, do Fábio Wollstein ou do Jean Errado, meu irmão artista plástico que foi co-organizador da feira desde a primeira edição. A gente fazia a feirinha porque a gente gostava, porque a gente queria fazer um negócio diferente aos domingos. Porque a gente achava legal curtir o Centro da Cidade num domingão.

A feirinha era amadora. Amadora no sentido original da palavra, feita por amor. E ela fez tão bem para a cidade que acabou crescendo e crescendo muito. A cidade passou a exigir uma feirinha maior, mais profissional, um pouco longe dos objetivos iniciais dos fundadores.

Em 2016, passamos a Feirinha adiante. Passamos para profissionais, que tornaram a Feirinha um evento profissional. Eu atravessei o Atlântico e vi de longe ela crescer ainda mais, se tornar fundamental na cidade e até mudar de endereço, algo que nunca gostei, mas não tinha mais o direito de reclamar.

Veio a pandemia e levou a Feirinha junto. Não conseguiu resistir e sua volta foi tímida. Logo, as tendas se fecharam e a Feirinha virou lembrança. Não conseguiu completar 10 anos, uma pena.

Exatos 10 anos depois daquela tarde mágica na Servidão Wollstein, as lembranças são as melhores possíveis. Blumenau não estava rachada por causa da política, as pessoas entrando na feira com apenas 17 atrações e perguntando se haveria novas edições.

Estudei muito sobre comunidade, sentimento de pertença e atividades sociais na minha tese sobre jornalismo de proximidade. A Feirinha da Servidão Wollstein foi aquela coisa de viver a cidade, respirar a cidade.

Que Blumenau tenha novos malucos a se reunirem uma terça-feira num bar para discutirem uma coisa e acabarem fazendo outra, mexendo com a cidade…

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