Crônicas

Meio padaria,meio tasca

Quase quatro anos a viver em Portugal e uma das coisas mais legais a serem conhecidas nesta terrinha são as tascas. Como ex-proprietário do Botequim Literário, nome dado a um blog de contos de inspiração boêmia, gosto de entender e comprender a vida bodegueira além-mar.

As bodegas portuguesas são chamadas de tascas e possuem muitas características semelhantes às versões brasileiras. Para começar, elas nunca não chamadas pela função principal no qual desempenham: no Brasil, os botecos recebem o nome de Lanchonetes, os famosos Zeca Lanches. Por aqui, elas são cafés ou pastelarias.

Pastelaria aqui nada a tem a ver com as pastelarias brasileiras. A referência são coisas como o pastel de nata. O pastel frito brasileiro é raridade por aqui. Mas se você for em muitas pastelarias, você vai encontrar muito poucos pasteis de nada, ou às vezes nenhum, porque eles não produzem, apenas vendem de um fornecedor que só leva uma vez ao dia.

Seja pastelaria ou café, as tascas portuguesas possuem algumas regras: máquina de café expresso, mesas simples, Correio da Manhã nas mesas e na televisão e uma fumaça que torna você um fumante passivo em poucos segundos. Correio da Manhã, no caso, é um jornal daqueles sensacionalistas que tem um canal de TV igual. Um fato impressionante, vista a dificuldade de fazer um jornalismo policialesco em um dos cinco países mais seguros do mundo.

Os bêbados, bom. Os bêbados são iguais aos brasileiros. Fofocam sobre tudo, discutem sobre futebol e ficam bebendo o dia inteiro. A diferença que aqui, tem o café para dar uma variada. Sim, os portugueses tomam mais cafés que jornalistas e publicitários brasileiros juntos.

O que talvez seja mesmo muito diferente do Brasil são os estabelecimentos híbridos: meio padaria/meio tasca. Até mesmo em padarias de qualidade, daquelas que apresentam um repertório variado de pães e doces, você encontra a ala tasca, isto é, um Correio da Manhã, uma torneia com cerveja e um bêbado fumando e bebendo.

Achei curioso a primeira vez que entrei em uma padaria assim em Portugal, mas percebi logo que é uma tradição. Por aqui, todos os estabelecimentos vendem café e todos os estabelecimentos vendem cerveja em barril. Até dentro das universidades têm.

Em termos poéticos e literários, as tascas portuguesas não perdem em nada para as lanchonetes brasileiras. Até mesmo na curiosidade por parte de cronistas meio intelectuais, meio de esquerda. Esta crônica só não foi produzida dentro de um desses lugares porque estamos em quarentena também.

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