Crônicas

Meus problemas com a poesia

Eu gosto de escrever, eu digo. Que legal, você é escritor? Responde ela. Eu escrevo, mas não me considero um escritor pois nunca publiquei um livro, escrevo por lazer mesmo, eu replico. Legal, o que você escreve? Ela pergunta. Crônicas e, às vezes, contos, eu respondo. Você escreve poemas? Eu adoro poesia, ela manda, jogando um balde de água fria na minha cara. Daí por diante, a conversa só irá desandar.

Tenho sérios problemas com a poesia. Para começar, não tenho muitas afinidades com ela. Sim, você já pode ir embora, fechar aba do navegador ou jogar o livreto fora. Se você me conhece pessoalmente, pode vir até minha casa e dar um tapa na minha cara. Eu sou o traidor dos amantes da literatura, a ovelha negra da turminha dos livros. Eu não tenho intimidade, raramente leio, e confesso não ter muita paciência com a poesia.

Como adepto e fiel da prosa, sei que também poderia levar a vida em versos. Mas a objetividade corre no meu sangue. A poesia só faz sentido para mim quando os versos ganham tons musicais. Ainda sim, gosto do padrão Faroeste Caboclo, uma letra em parágrafos extensos.

É bonito ver uma declamação? Sim, mas ainda prefiro uma história bem contata, com um narrador empolgado, levantando o tom na hora certa. Já tentei escrever em poemas, sou um desastre da rima. Mas é a subjetividade que mais me afasta dos versos.

Gosto de objetividade, linha reta, que as coisas façam sentido desde o início. De abstrato já bastam as minhas ideias insanas. Eu uso o lado esquerdo do cérebro, quero a lógica acima de tudo. A cadeira é azul? Sim, ela é azul e pronto. Pode ter uma referência ou outra, mas não precisa ocupar três estrofes para filosofar sobre ela.

Mas é claro, todo mundo sem seu ponto fraco. Para um jornalista chato como eu, ceder a poesia somente se ela for crítica, provocadora, controversa. A poesia completa de Álvaro de Campos, o mais legal heterônimo de Fernando Pessoa, é o único livro em versos da estante. A acidez do poema em linha reta atrai justamente por ela ser quase uma prosa.

Essa bodega tem poemas, também. Não meus, claro. E não tenho nada contra quem escreve, quem lê. Viu? Não precisa me odiar, não. Sou apenas um frio e racional humano, incapaz de sentir a profundidade dos versos. Mas nem dá bola. Saia daqui e vai ler um grande poeta, você ganhará muito mais.

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