Eu tenho problemas com a poesia e contei aqui no Botequim que ela fazia mais sentido para mim quando ganhava tons musicais. Essa é a base para escrever agora sobre o Prêmio Nobel para Bob Dylan sem ser um fã do artista e da poesia, um texto herege que fará com que muitos fechem o computador com indignação.
Não que uma declamação não soe como música quando bem feita, ou que um poema de amor dito ao pé do ouvido não possa causar arrepios, mas a poesia e as notas musicais formam um casamento perfeito tão antigo e conhecido, que é estranho que se tenha estranheza ao saber que um compositor venceu o Nobel de Literatura.
A literatura é o uso estético da escrita. Tem origem em “Littera”, palavra em latim que significa letra. Uma composição musical que não seja instrumental utiliza-se das mesmas bases. Não é necessário publicar um livro para ser um poeta, um artista literário. Dylan já publicou, mas não foram as publicações que o fizeram ganhar o Nobel.
Negar Dylan como um poeta da literatura seria como negar no Brasil que Chico Buarque seja um poeta também. O brasileiro já admitiu que é muito mais um letrista que um compositor musical. Se Construção não é poesia, eu realmente não sei o que é.
Nos últimos dias, completamos 20 anos sem Renato Russo, outro que será mais lembrado pela letra do que pela música. Além dos nomes tradicionais, estamos repletos de poetas-músicos na MPB, no rock, no rap e em inúmeras manifestações.
O Prêmio Nobel deixou o convencional. Quais as razões devem ser discutidas longamente em uma mesa de bar, mas a premiação de um compositor deve deixar bem claro: poesia e música devem andar juntas ou ao menos próximas.
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