Contos

Crônica da Beira Baixa

Entrou no comboio encharcado pela chuva que há meses não caia em Lisboa. O inverno acabava, mas o frio persistia naquela noite de março. Antes de guardar sua mala, retirou o laptop e buscou vídeos bestas na internet para se distrair. Enquanto o comboio balançava lentamente em sua viagem interminável, o passageiro duelava internamente entre a insônia e a preguiça. A internet não colaborava, a noite escurecia as belas paisagens e o espresso da tarde…

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Crônicas

Caligrafias de um garrancho

A palavra era Chesbrough, rabiscada rapidamente em uma anotação para a minha dissertação. No primeiro olhar após o rabisco, havia entendido, no segundo não conseguia mais decifrar. O garrancho era tão explícito que minha caligrafia mais parecia uma arte dadaísta que uma sequência de caracteres. Olhei e pensei:  existe alguém com a letra mais feia que eu? Uma realidade que convivo desde a infância, quando os cadernos de caligrafia eram métodos de tortura para uma criança…

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Contos

Conversem entre vocês

Chegou no bar pontualmente às 10 da noite. Sedento por uma IPA após um dia exaustivo no trabalho, sentou em uma mesa e chamou o garçom: – Primeiramente, Fora Temer. Em segundo, o que o senhor deseja? – Oi? – Oi – Não entendi. – Como assim não entendeu? – Ah, esquece. Me dá uma Capivara. – Certo. Visse as notícias do dia? – Qual delas? – Estão querendo prender o ex-presidente. – E daí?…

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Contos

Nada combina com absinto

A garoa estava fina, mas o calor permanecia. A calçada era larga, de cimento, e a rua estava deserta. António acordou em meio ao vômito. Sujo, jogado ao chão, tentava se levantar atordoado, com uma forte dor de cabeça e várias perguntas no ar: onde estou? Que dia é hoje? Que horas são? Como vim parar aqui? O que aconteceu ontem à noite? Ele vestia a mesma roupa que trabalhou no dia anterior: camisa social…

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Crônicas

Sobre o tempo e a felicidade

Tá acabando, né? Uma pergunta com muitos sentidos, usada para bem, mas que me fez um mal na hora. Ouvi por skype do meu pai, sobre o primeiro ano do meu mestrado. A ficha caiu naquela hora, uma expressão pra lá de ultrapassada, aliás. Senti o tempo passando, a fila andando e a hora de voltar para a terrinha cada vez mais próxima. O desconforto tomou conta de mim: mas como assim, já está acabando?…

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Devaneios

A Casa Fernando Pessoa em Lisboa

Eu já disse algumas vezes nesta bodega que tenho problemas com a poesia. É um mal que admito e não me orgulho. A racionalidade me afasta do versos e tenho uma paixão incontrolável pelas histórias lineares. Admiti que Fernando Pessoa sempre foi uma exceção e Lisboa não apenas me confirmou, mas também abriu novas esperanças para uma vida sem preconceitos com os poetas. Lisboa respira arte. Na parte histórica da cidade, todo botequim é literário.…

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Crônicas

Crônica do rumo perdido

Diz o Renato Russo que você pode andar distraído, impaciente, indeciso e ainda sim estar tranquilo e contente. Para muitos, trata-se de uma paixão, outros de amor, eu chamo de domingos e segundas-feiras. Para um ansioso, tudo é duvida e incertezas, mas talvez a absoluta falta de rumo pode ser doses de felicidade em meio a tantas angústias. Sofrer com o amanhã, com o que pode acontecer e principalmente com o que não pode acontecer…

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Crônicas

Ensaio sobre as selfies

Está na descrição do meu perfil no instagram: não sou fotógrafo e não tiro selfies. Trata-se de um alerta e uma mensagem de segurança para o cidadão que por ventura desejar me seguir na rede social: não haverá fotografias de qualidades, mas ao menos o seguidor não precisará dar de cara com a minha cara. Falta de amor próprio? Não. Uma forma exótica de narcisismo? Tampouco. Feio demais? Talvez. O fato é que não sinto…

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Crônicas

O Oceano

Era o começo do ano e eu sentei a beira mar e comecei a observar o oceano enquanto pensava na vida. Um rito sagrado feito há quase 33 anos que não podia ser quebrado. Estava tudo lá como sempre, as ondas do mar, as pessoas caminhando na praia, outros correndo. Tinham aqueles que ficavam no molhe, sentados, observado a vista como eu. As crianças se divertiam tanto quanto os cachorros, em uma disputa eterna para…

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Contos

A revolução dos bichos – parte 2

A neve continua a cair na fazenda. Todos os animais sofriam com o mais rigoroso inverno de suas vidas. Mesmo com o Moinho de Vento pronto e com um controle de comida, os bichos começam a passar fome na granja. Napoleão não é mais o grande líder da fazenda. Ele se foi e deixou no lugar a porquinha Josefina, que reluta em precisa de nova ajuda dos seres humanos para manter a granja funcionando. Mas…

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