Crônicas

Viagem ao fundo do copo

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Em qualquer redação, o título é uma arte e também, uma peça fundamental. Um professor de Literatura do segundo grau dizia para mim que aqueles que não colocassem um título na redação do vestibular mereciam ser execrados. Jornalistas escrevem histórias maravilhosas e não conseguem pensar no título. Cronistas conseguem fluir suas ideias nas páginas com facilidade, mas sofrem ao pensarem na chamada.

Esta crônica é o inverso. Eu pensei no título primeiro: Viagem ao Fundo do Copo. Obviamente, um trocadilho do filme Viagem ao Fundo do Mar com Vozes no Fundo do Copo, primeiro livreto desta bodega que chamam de Botequim Literário. Nome bacana e tal, mas sobre o que essa crônica vai falar?

Poderia ser uma história de um sujeito que bebe tanto que viaja todas as noites na bodega. Ou então, de um escritor que faz contos bizarros sob efeito do álcool. Uma história mais enigmática, talvez, sobre símbolos formados com o açúcar que fica no fundo do copo de caipirinha.

Terminou o último gole da caipirinha, quando percebeu uma anomalia no açúcar restante entre o gelo no fundo do copo. Observou com mais cuidado e viu uma pirâmide com um olho dentro formado…

Não, não! Está muito ruim isso. É forçar demais a barra. A história do sujeito que bebe e viaja para outros mundos dentro do seu porre faz mais sentido.

Terminou a quinta dose de tequila e percebeu que o bar estava diferente. As lâmpadas foram trocadas por lampiões, a jukebox no canto virou um sujeito com violão e as roupas das pessoas eram muito diferentes.  Foi quando avisou a entrada de um anão…

Não, não! Também não ficou bom. Historinha de viagem no tempo através do álcool não tem graça. Até porque, a viagem é para ser ao fundo do copo e não ao passado ou ao mundo de Game of Thrones.

Já passa da meia noite e esta crônica não está pronta. O novo livreto do Botequim Literário será finalizado neste dia. Chegou a hora de terminar e entregar para o diagramador. Quatro páginas já foram feitas, dedicadas ao Felício e ao Escrivão. E o fundo do copo, até agora, só tem água do gelo derretido.

Por outro lado, o número de caracteres está no fim. Só tenho direito a mais uma página neste projeto. O texto precisa ser curto mesmo. Já tenho um bom título e consegui enrolar você, leitor, e mais de dois mil caracteres. Não sei se isso vai ser uma viagem ao fundo do copo, mas com certeza será ao fim do livreto. Fechamos por aqui, antes que o editor corte as palavras.

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