Crônicas

A cliente solitária

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Reunir os amigos, colegas de classe após a aula ou de trabalho após o expediente e conversar sobre os mais diversos temas, desde futebol, passando por assuntos do serviço até política e as festas do final de semana. Tudo isso acompanhado com uma cerveja gelada e, às vezes, algumas porções. São razões básicas que levam jovens e adultos para os bares.

No Botequim Literário não é diferente. Além do tradicional balcão com vidros de ovo e rollmops em conserva e aquelas geladeiras publicitárias no fundo, esta bodega possui uma imensa estante num dos cantos, onde os boêmios podem ler um conto ou até mesmo recitar uma poesia.

Beber é um ato majoritariamente coletivo, mas todas as quintas, uma figura aparecia no bar despertando a atenção de todos: a cliente solitária. Ela aparenta ter uns 30 anos de idade, chega ao bar sozinha, senta em uma cadeira em um canto do bar, acende um cigarro, pede uma cerveja ou um drink e fica ali, sozinha, filosofando sobre a vida enquanto bebe e fuma.

Não, meu caro leitor, não escrevo sobre uma mulher específica. Toda quinta-feira aparecia uma diferente, mas com este perfil. Elas são belas e possuem um olhar diferente, como se fossem escritoras em busca de inspiração ou artistas plásticas que vão ao bar espairecer após um dia exausto nos ateliês.

Mas por que esta dama misteriosa está sempre sozinha? Vem à procura de conversa, para conhecer novas pessoas? Não, não parece isso. Até porque, sempre tem um sujeito que tenta puxar uma conversa, mas o garçom é o único que fala com ela. Provavelmente um assunto secreto, pois nenhum deles revelou o assunto. Ela também não mexe nos nossos livros, tão pouco pega o jornal para saber as notícias do dia.

A cliente misteriosa não presta atenção na televisão, não ri e nem se irrita com as bagunças das outras mesas. Ela fica ali, com um olhar concentrado e distante, prestando atenção talvez na música, talvez em todo o universo, talvez lendo o pensamento de todos nós, descobrindo nossas ideias, nossas intenções. Nós a desejamos, mas não temos coragem de ir em frente, pois não sabemos quem ela é. Nem se realmente existe.

Ela deixa a cadeira por duas razões: ir ao banheiro e depois pagar a conta. A cliente vai embora antes que todos nós e na outra semana surge outra dela. Não adianta tentar sentar nos cantos, roubar o lugar. Se você fizer isso, ela não aparece…

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