Abril de 2020
Crônica publicada originalmente em março de 2020 no blog “Crônicas da Quarenrena”
contos
Crônica publicada originalmente em março de 2020 no blog “Crônicas da Quarenrena”
Crônica publicada originalmente no blog “Crônicas da Quarentena” em março de 2020.
Entrou no comboio encharcado pela chuva que há meses não caia em Lisboa. O inverno acabava, mas o frio persistia naquela noite de março. Antes de guardar sua mala, retirou o laptop e buscou vídeos bestas na internet para se distrair. Enquanto o comboio balançava lentamente em sua viagem interminável, o passageiro duelava internamente entre a insônia e a preguiça. A internet não colaborava, a noite escurecia as belas paisagens e o espresso da tarde…
Chegou no bar pontualmente às 10 da noite. Sedento por uma IPA após um dia exaustivo no trabalho, sentou em uma mesa e chamou o garçom: – Primeiramente, Fora Temer. Em segundo, o que o senhor deseja? – Oi? – Oi – Não entendi. – Como assim não entendeu? – Ah, esquece. Me dá uma Capivara. – Certo. Visse as notícias do dia? – Qual delas? – Estão querendo prender o ex-presidente. – E daí?…
A garoa estava fina, mas o calor permanecia. A calçada era larga, de cimento, e a rua estava deserta. António acordou em meio ao vômito. Sujo, jogado ao chão, tentava se levantar atordoado, com uma forte dor de cabeça e várias perguntas no ar: onde estou? Que dia é hoje? Que horas são? Como vim parar aqui? O que aconteceu ontem à noite? Ele vestia a mesma roupa que trabalhou no dia anterior: camisa social…
A neve continua a cair na fazenda. Todos os animais sofriam com o mais rigoroso inverno de suas vidas. Mesmo com o Moinho de Vento pronto e com um controle de comida, os bichos começam a passar fome na granja. Napoleão não é mais o grande líder da fazenda. Ele se foi e deixou no lugar a porquinha Josefina, que reluta em precisa de nova ajuda dos seres humanos para manter a granja funcionando. Mas…
Entrar na boate em uma noite fria, chuvosa, típica do nosso inverno, era algo que eu não queria mais fazer. Mas era o meu dever. Não estava ali para me divertir, já não tinha mais idade para isso, era uma missão divertida para mim, mas não para a maioria daqueles que eu mandei embora. Estava ali motivado pela vingança. Era o décimo quinto sumiço de pessoa dentro da boate mais cara da cidade. Uma pessoa…
Faltavam 10 minutos para as quatro horas da madrugada quando Luiz deixou o bar. Com o jeans rasgado e os Ramones no peito, descarregava sua raiva nas latas no chão. Atravessou a rua, sentou no banco do ponto de ônibus, tirou um revólver da cintura e começou a recarregar o 38. Letícia saiu em seguida. A jovem foi correndo ao ponto, entre a angústia do que poderia vir e a calma que era necessária para…
A chuva caia fina em Florianópolis. O frio era intenso e poucos se arriscavam a sair naquela noite estranha. Os policiais chegaram por volta das 10. A Praça XV, habitada por jogadores e dominó e pombos, estava deserta. Nem mesmo traficantes de drogas ousavam. No meio da praça, o corpo da jovem loira, com uma camisa do Figueirense, os lábios de sangue e os olhos azuis eternamente abertos. O policial que mais se afastou do…
Carlos odiava a língua portuguesa. Odiava tanto que gostaria de nascer depois de 2000, para ser alfabetizado com a nova ortografia, mais fácil de aprender. O estudante secundarista odiava escrever, nunca tinha ideias e sempre redigia muito mal. Raramente conseguia terminar um texto, sempre com erros de concordância e frases sem sentido. O vestibular estava próximo. E para se tornar um acadêmico de Sistemas de Informação, Carlos teria que escrever uma boa redação, que era…