Crônicas

Nos tempos do marketing digital

Por favor, desative seu bloqueador de anúncios para ler esta crônica sobre o mundo nos tempos do marketing digital.

Boa noite, eu sou o José Madrugão Lanches da Silveira. Sou jornalista de formação e atuo como copywritter. Na verdade, eu sou do tempo em que as pessoas diziam Redator Publicitário, mas por que utilizar uma expressão tão brega, se temos um equivalente em inglês?

Imagem de Banco de Dados meramente ilustrativa
Imagem de Banco de Dados meramente ilustrativa

Primeiramente, eu sei que você está estranhando meu nome. Sim, Madrugão Lanches. Por quê? Porque são tempos de crise, meu amigo. Precisava de um dinheiro e decidi vender os meus naming rights para uma empresa. Sonhava com Apple, Petrobrás, acabei me contentando com a lanchonete do bairro. Mas consegui uma graninha boa com isso.

Cheguei a cogitar a criação de uma SAI – Sociedade Anônima Individual. Venderia ações da minha vida pessoal para empresas. Mas infelizmente os deputados daquele partido votaram contra a lei. Sim, aquele partido. Você sabe de qual eu falo, né? Eles não me pagam nada, logo, não vou citar o nome deles.

As pessoas falam mal desse novo jeito de ganhar dinheiro, com publicidade em tudo, mas eu acho maravilhoso. Aqui, eu sempre ganho mais. É como comprar na sexta-feira da carne dos Supermercados Tradição, onde todo dia tem uma promoção.

O parágrafo abaixo é um conteúdo patrocinado pelos Supermercados Tradição.

Subtítulo porque o Yoast SEO mandou eu colocar

Na minha cidade, tudo virou marketing. Primeiro, foi a Câmara de Vereadores, que instalou publicidade programática entre as falas dos vereadores. Tipo YouTube, sabe? Mas se você não gosta de publicidade, você pode assinar o plano Cidadão Premium. Assim, você pode ver toda a sessão sem publicidade e ainda pode dar sugestões de nomes de ruas para os vereadores.

As ruas, pontes, praças, tudo com naming rights. Até a favela da cidade teve seu nome comercializado. Porém, ali teve muita polêmica, já que foi um partido que venceu o leilão. O partido colocou seu nome numa favela? Não, colocou do partido rival, por isso que deu problema.

A nossa educação ficou muito melhor depois que o governo implantou a política se educação empreendedora. As disciplinas na escola são: empreendedorismo, marketing, SEO, vendas, tráfego pago, campanhas digitais. Usamos KPIs ao invés de notas para avaliar os alunos. As cantinas foram terceirizadas para o McDonalds e os melhores influencers, digo, melhores alunos, ganham créditos para comprar matérias premium.

Marketing digital é tudo

Nossos médicos são bloqueirinhos de saúde, que fazem lives de suas cirurgias. Nossos mendigos não pendem dinheiro nas ruas. Eles ficam na frente dos supermercados, observando o que você comprou, e mendigam cookies para acessar os dados de suas compras. Então, eles vendem essas informações para grandes supermercados, que enviarão propagandas para a sua caixa de correio. E não, falo do e-mail, falo da caixa física, mesmo. A gente é marketing digital, mas curte um papel.

Por fim, quero dizer que esta crônica acaba por aqui. Assinantes da minha newsletter recebem conteúdos como esse todos os dias, na suas caixas de e-mail, por um valor bem simbólico. Portanto, não temos mais conteúdo gratuito. Quem quiser conteúdo de graça, acessa o blog do Giovanni Ramos ou o canal dele no YouTube. Ele fala mais de jornalismo, mas entende um pouco desses paranauês aqui.

Afinal, você achava que esta crônica era para que?

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