Não há sentimento ou hábito de um povo que uma rede social não possa estragar com os seus algoritmos. Um ótimo exemplo é o Facebook. O robozinho deles fica lembrando das suas postagens antigas. Parece uma ideia boba, simples e divertida em prol da nostalgia, mas é na verdade máquina de produção de vergonha.
Meu Deus, eu escrevi isso mesmo? Quem nunca pensou isso ao ver essas recordações que algoritmos mostram que atire a primeira pedra. As previsões são as melhores. Esse ano meu time vai se dar bem. Aquele candidato? Não, ele jamais ganhará a eleição, entre outras furadas. Como vascaíno e de esquerda, vocês sabem muito bem do que eu to falando.
Há também aquele comentário daquela pessoa que você até se dava bem, mas tudo mudou depois de 2018. O aplauso para uma coisa que você não concorda mais e o comentário fofo/safado daquela pessoa que você estava saindo na época e depois nunca viu mais. Poxa, quanto tempo se passou! Será que ela tá bem hoje? É praticamente um Oi Sumida interno, não publicado…
Por outro lado, a viagem no tempo proporcionada pelas redes sociais te coloca em uma nostalgia sem fim. Ora, pensa que a gente já viveu numa época com dólar baixo, emprego, Vasco na primeira divisão. Você era o jovem ligado nas tecnologias, não tinha um TikTok para se sentir velho e o PFL/DEM era o maior problema da política brasileria.
Posts antigos mostram que a gente se importava com coisas pequenas, como diz o Faith no More. A gente sabe que eram coisas pequenas pois a linha do tempo mostra como as coisas foram piorando com o passar dos anos. Em 2011, eu comemorei o título da Copa do Brasil. Em 2015, eu fiquei puto com o rebaixamento. Em 2022, eu vou estar feliz se ficarmos em quarto na Série B.
Recordar postagens do passado é ver como fomos ingênuos, como pensávamos que éramos grandes, quase famosos em nossas vidas. E esse misto de nostalgia e vergonha é o gatilho para fazermos bobagens hoje em dia. Bobagens que entrarão na lista das vergonhas daqui a 10 anos. Nostalgia não é desculpa para a estupidez, diria o Bad Religion. O desafio é saber valorizar as pesquenas vitórias (outra música do Faith no More).
Mais do que uma questão de perspectiva, é contextualizar. Compreender o motivo de tamanha felicidade por um motivo tão besta naquela postagem de muitos anos atrás. Somos a primeira geração a ter a sua história registrada, para ser lembrada no futuro. Uma geração que não poderá alterar as histórias para os seus netos, porque eles terão como saber a verdade.
Duvido que um tiktoker de 20 anos pense que quando tiver 80 anos, alguém vai mostrar a dancinha que ele fez no passado. Talvez a geração dos tiktokers nem esteja se preocupando com isso. E sim, eu gosto de escrever sobre o tempo.