Setembro de 2022. Enquanto o Brasil se matava na guerra entre Lula e Bolsonaro, eu iniciava minha peregrinação pelos jornais locais da região Oeste de Portugal. Sempre pela sombra, eu cumpria uma das últimas etapas da minha tese de doutorado. Observar jornais para depois fazer uma proposta.
Cidades pequenas, próximas do mar, mas distantes de uma vida agitada. Você, brasileiro que acessa esta crônica, nem deve imaginar que existe uma cidade chamada Lourinhã. É uma vila pacata, que tem uma praia dentro do mesmo município e dinossauros…Calma, leitor, a crônica não será sobre o Dino Parque Lourinhã. O que é isso? Googla aí!
A minha história começa numa portinha junto à Igreja Católica no centro da cidade. É lá que fica a sede do Jornal Alvorada, de propriedade da Igreja, um bimensal impresso com versão digital. Acompanhei a rotina do jornal por uma semana. Dois jornalistas, uma diagramadora, uma funcionária no comercial/assinaturas e muitas histórias de cidadelas.
No Brasil, trabalhei nas curiosas Pomerode e Gaspar. Sim, caro leitor, a fama de Pomerode hoje não é tão boa por causa de um inelegível. E por mais que estivesse em outro país, a rotina do Jornal Alvorada em muito lembrava as rotinas nos pequenos jornais brasileiros.
Se as redações dos grandes jornais é coisa de maluco, com repórteres querendo pular da janela em fechamento de edição, as redações dos pequenos parece tranquila mesmo nos momentos mais tensos. Atenção: eu disse PARECE. O sentimento de defenestrar pessoas, fontes e leitores é o mesmo nos pequenos jornais, mas o ar é muito mais respirável.
Observar ou participar? Eis a questão…
A minha missão naquele momento era acompanhar os trabalhos, conversar com os profissionais e anotar…anotar muito. Porém, por algum instante, eu me vi escrevendo uma matéria, revisando uma página, colocando algum conteúdo no site. Era como se eu fosse da equipe há 5 anos e já soubesse o que tinha que fazer.
Eu não fiz nada disso, obviamente. O conceito de Observação Participante não é exatamente isso. Mas que deu vontade, deu. E contei isso para eles antes de ir embora. O editor, compreensivo, me disse: “entendo”.
Eu escolhi sair da redação em 2016 e fui iniciar a vida acadêmica. Um trajeto longo, complicado, que quando você acha que está chegando no ápice, percebe que está apenas começando. Consegui dois contratos de trabalho como pesquisador, um deles, o meu atual. Contratos vinculados ao doutorado, é verdade, mas sempre coloquei JORNALISTA como minha primeira profissão.
A crise da abstinência jornalística
Dizem que política é uma cachaça. Porém, eu afirmo: JORNALISMO É UMA CACHAÇA. Uma cachaça tão forte, um vício tão perigoso quanto o álcool, que me encontro hoje em abstinência. Preciso de uma redação para alimentar meu vício e produzir textos e vídeos no blog não suprimem a minha necessidade.
Agosto é o mês do descanso por aqui. Mas para um viciado, não há tranquilidade em tempos de abstinência. Eu sei que o Ministério da Saúde adverte: praticar jornalismo faz mal a saúde. Mas como nunca fui a uma clínica de reabilitação, nem participo de um grupo de jornalistas anônimos, eu preciso alimentar meu vício.
Pensei em invadir a sede de um jornal em Portugal armado: isto é um assalto, me passa um computador e uma pauta, AGORA. Ou então, aterrorizar as pessoas nas ruas: perdeu, playboy. Não, não quero seu celular, quero que você me dê uma entrevista. Muito mais aterrorizador, não?
Em setembro do ano passado, eu consegui me controlar. Tinha meus afazeres acadêmicos. Agora, durante as férias das universidades, fiquei mais exposto. Eu tento me controlar, eu sei que faz mal, eu sei que gera dor de cabeça, eu sei que é uma sarna para eu me coçar, mas não tem jeito.
Vem aí um novo projeto…